Sem bala, com bala: morte de DG gera dúvidas e indignação

Truculência da polícia, bala perdida, criminosos? A morte do dançarino do programa Esquenta, da Rede Globo, Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, de 26 anos, causou revolta na comunidade Pavão-Pavãozinho, no Rio de Janeiro, e ainda deixa muitas dúvidas no ar.

Corpo de DG foi encontrado dentro de creche, na comunidade Pavão-Pavãozinho.

Corpo de DG foi encontrado dentro de creche, na comunidade Pavão-Pavãozinho.

#SegundaFeira21

Conforme entrevista do secretário de Segurança do Rio ao jornal Extra, José Mariano Beltrame, “na noite de segunda-feira, 21, PMs receberam uma denúncia de que um criminoso conhecido como Pitbull, líder do tráfico na favela do Cantagalo, em Copacabana, estava escondido perto da quinta e mais alta estação do plano inclinado (sistema de bondes instalado no morro). Uma patrulha com dez PMs seguiu para o local, mas, ao chegar à segunda estação, foi atacada por um grupo de “cinco ou seis” pessoas armadas inclusive com bombas de fabricação caseira. Os policiais revidaram, se abrigaram e voltaram à sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), avisaram o seu chefe e registraram o caso”, afirmou o secretário.

#TerçaFeira22

Na terça-feira, 22, depois de a Polícia Civil realizar uma varredura na comunidade, encontraram o corpo de Douglas dentro de uma escola. Segundo Beltrame, “Douglas pode ter sido morto por criminosos ou por policiais. Não descarto que sejam policiais, mas não posso acusá-los. Não podemos antecipar nenhum juízo de valor. As armas dos dez policiais envolvidos no confronto foram recolhidas, mas eles continuam trabalhando. Preciso de um mínimo indício para afastá-los”, disse.

Após falar que o corpo não tinha marcas de tiros, perícia voltou atrás.

Após falar que o corpo não tinha marcas de tiros, perícia voltou atrás.

#SemBalaComBala

 Ao encontrar o cadáver, na última terça-feira, a perícia do local apontou que as escoriações apresentadas pelo dançarino eram “compatíveis com morte por queda”, sem mencionar a perfuração por arma de fogo. Apenas no dia seguinte, foi divulgado que DG tinha tomado um tiro antes de morrer.

Em foto divulgada pelo jornal EXTRA na última quinta-feira, 24, o corpo de Douglas aparece com uma marca de tiros nas costas, com o rosto encostado numa parede e com uma das pernas dobradas.

Polícia percorre caminho feito por Douglas

Uma nova visita ao local do confronto, policiais civis definiram o caminho feito pelo dançarino até o momento em que caiu, nos fundos da creche, onde o corpo foi encontrado. A Polícia Civil não tem dúvidas de que o dançarino pulou para a laje da creche e, como o telhado é de telhas de alumínio, provocou um barulho que chamou a atenção de madrugada. A hipótese mais provável é de que o tiro que atingiu o jovem tenha provocado a sua queda no corredor. Mesmo baleado, ele se arrastou pelas paredes, chegou a ficar de pé, como mostram as marcas de sangue no lugar, mas não suportou e caiu. O delegado do caso, Gilberto Ribeiro, também descartou ontem que o dançarino tenha sido vítima de bala perdida.

Policiais são ouvidos

Na quinta-feira, foram ouvidos oito os nove policiais envolvidos no tiroteio que terminou com a morte de DG. Todos negaram que tenham atirado no jovem. Os PMs contaram que foram vítimas de uma emboscada de traficantes – inclusive do chefe do tráfico da comunidade, Adauto do Nascimento Gonçalves, o Pitbull, que estava na quadra do Pavão-Pavãozinho – e que apenas revidaram os tiros dados por bandidos. Segundo a polícia, cinco PMs estavam há apenas 20 dias no policiamento da favela, e ainda não conheciam bem a área. Eles são oriundos da UPP do Complexo do Alemão. As armas utilizadas pelos PMs – seis fuzis e dez pistolas – já foram enviadas para o Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). A reconstituição do crime será feita nos próximos dias.

Enterro 

O corpo de DG foi enterrado ontem no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Cerca de 400 pessoas compareceram ao sepultamento.

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“Meu filho foi assassinado com requintes de crueldade”. 

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