#Artigo: O machismo nosso de cada dia

Hoje, dia 25 de abril, depois de ler o esclarecedor artigo da Rosiska Darcy de Oliveira, meus olhos bateram na matéria “Namorado confessa ter matado empresária”.

Imediatamente me veio à cabeça a lembrança de inúmeros casos semelhantes, recentes e antigos. É estarrecedor perceber a trágica rotina de mulheres em todos os níveis sociais sendo assassinadas por seus companheiros e namorados.

A motivação é sempre a mesma, ciúmes e sentimento de posse. Penso em todos os movimentos em defesa das mulheres, nas leis mais rigorosas amplamente divulgadas e do blá blá machista de proteção às mulheres.

Pois os homens se apropriam das teses e movimentos de mulheres dignas e sofridas para, com discursos igualitários, reforçarem o machismo cotidiano mitigado em leis, delegacias e instituições “protetoras das mulheres”.

Contudo, o feminicídio continua em níveis alarmantes. Feminicídio que é banalizado e naturalizado na cobertura jornalística. Creio que o enfoque na imprensa e em todas as demais mídias deve ser radicalmente alterado, e deve falar do machismo nosso de cada dia e não no tipo de vida da mulher.

Muito se tem dito sobre a dupla vitimização das mulheres mortas ou violentamente agredidas, mas o foco é sempre a vítima e não o agressor e cruel assassino macho. Nós homens somos contemplados com o benefício da dúvida e do desespero possessivo do momento, as mulheres não.

O ciúme dos homens é sempre visto como um ciúme do bem, do bem quer, e legitimado socialmente. O das mulheres, como desvio de personalidade ou chatice crônica. Portanto, deslegitimado e sem amparo psicossocial.

O ciúme é uma virtude para o masculino e uma contrafação cafajeste para o feminino. E assim, a vítima morta é banalizada, é mais uma na extensa crônica de mortes anunciadas. Aos homens, como eu, é permitido o exercício do ciúme como normalidade civil e sociológica. Já para a mulher assassinada e violentada, o ciúme deve-se a um desvio de seu caráter.

O desejo e as vontades das mulheres são ridicularizados pelos homens em piadas e críticas ao feminino. Ao ler a reportagem de hoje fui remetido ao meu machismo. Ao machismo cotidiano de cada um de nós homens.

Machismo e ciúmes que nós praticamos no dia a dia, como se uma tragédia também não fosse. Vamos enfrentar no cotidiano o machismo que nos move. Que move cada um e todos os homens.

Vamos denunciar enfaticamente nossos delitos diários de machismo e ciúme, para que novos assassinatos de mulheres não venham a acontecer.

E que sua divulgação pela imprensa e todas as demais mídias não sirvam como apologia para outros crimes legitimados pelo machismo cotidiano. Vamos criminalizar o machismo nosso de cada dia como hediondo e anticivilizatório.

Vamos divulgar que nosso machismo diário é o responsável legitimador de assassinatos, do feminicídio. Ou vamos continuar a assistir e ler que “namorado ou marido matou a mulher em um surto de ciúme” e achar que não temos nada a ver com isso.

Quando uma mulher é assassinada ou violentamente agredida todos os homens e cada homem em particular é responsável também. Ao terminar de ler a reportagem, chorei, pois me senti simbolicamente corresponsável por essa matança.

Paulo Baía.

25/04/2015

 

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