O que Mônica merece e o que todas as mulheres precisam

Mônica Silva Fernandes, 37 anos, chefe da limpeza urbana do município de Além Paraíba

“Parabéns a todas as mulheres do mundo, que Deus abençoe a cada uma de nós, vá a luta desistir jamais”.

Dia da Maria.
Dia das tecelãs de São Petersburgo.
Dia da Olympe de Gouges.
Dia das bruxas.
Dia da Justine.
Dia da Cleópatra.
Dia da Joana d’Arc.
Da Rosa.
Da Alice Hamilton.
Da Marie Cure.
Da Andressa.
Da Chiquinha Gonzaga.
Da Antônia.
Da Frida Khalo.
Da Catarina de Aragão.
Da Anita Malfatti.
Da Simone.
Da Tereza.
Da Ana Bolena.
Da Irmã Dulce.
Da Fátima.
Da Cora Coralina.
Da Cristina.
Dia da Pagu.

E, dia da Mônica Silva Fernandes, 37 anos, funcionária da limpeza urbana do município de Além Paraíba, Minas Gerais, há 1 ano e 3 meses.

A Mônica tem uma rotina agitada, como diz “corre o dia inteiro no trabalho”. Até aí, nenhuma novidade, já que hoje as mulheres representam 46.1% da população economicamente ativa no Brasil – um crescimento de 1.8% na última década, e se compararmos com as últimas quatro, um avanço de 17.9%.

Seus colegas são 71 homens, que diariamente fazem a varrição, capina e retirada de entulhos e lixos das ruas.

Agora, vamos ao surpreendente: Mônica faz parte dos 5% de mulheres que ocupam cargos de chefia no país. Ela confere a produção e qualidade em todas as frentes de trabalho de limpeza pública do município. O trabalho que realiza anteriormente era executado somente por homens.

Resumindo: Além Paraíba, de 35 mil habitantes, interior de Minas Gerais, tem uma mulher no comando da limpeza urbana na secretaria de Obras e Serviços. Como se não bastasse a posição que ocupa, ainda é em uma atividade extremamente masculina.

Repetindo: Mônica chefia 71 garis.

Como foi no início? De uma forma simples e tranquila, entre risos, ela resume assim: “uma mulher mandando, estranho né? Tive que ser um pouco dura e radical até tudo entrar nos eixos”.

Da dureza inicial, superada com a competência e o espírito de equipe, hoje Mônica se define como a psicóloga do grupo: escuta e tem a confiança de todos. “Se eu precisar que venham trabalhar no domingo, 90% me atende”, destaca.

Sobre a qualidade de seu trabalho, com o peito estufado, orgulhosa de seus colaboradores, responde: “a cidade está limpa, hoje tem apenas 3 bairros a serem limpos, coisa que em 15 dias consigo fazer, e o mérito desse trabalho é todo da minha equipe”.

As dúvidas que ficam são: como uma mulher, coordenadora de 71 homens, responsável pela limpeza de toda uma cidade lidou com o preconceito? Com tamanha responsabilidade? Com a insegurança?

Mônica não lidou com isso. Esses questionamentos não estavam em seus pensamentos. Ela passou por cima disso. Ninguém disse a ela que apenas 5% das mulheres brasileiras dividem essa mesma situação, ou que ela deveria temer esse desafio. Então, Mônica foi lá e fez dar certo.

E o que ela ouve da população nas ruas?  “Eles dizem guerreira, que deveria ter mais Mônicas por aí, pode olhar lá nos depoimentos do meu facebook, as pessoas gostam do nosso trabalho (risos)”.

Hoje, 8 de março, Mônica não receberá rosas pelo dia internacional da mulher. Ela já está recebendo, todos os dias, o que realmente merece e o que todas as mulheres precisam: igualdade.

Joanas, Marias, Fernandas, Simones, Patrícias e Mônicas. Vocês estão por aí, e sem saber estão mudando o mundo.

 

 

Comments
  1. 10 anos ago

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